O esporte é uma das principais vertentes de investimento federal para a inclusão de pessoas com deficiência
Investimento anual de R$ 42,5 milhões em atletas paralímpicos e criação de secretaria específica de Paradesporto demonstram prioridade do governo para o setor
Além de uma conexão expressa com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (21 de setembro) e o Dia Nacional do Atleta Paralímpico (22 de setembro) têm uma intersecção importante com as políticas públicas aplicadas pelo Ministério da Cidadania. O esporte paralímpico já tinha atenção fixa do Governo Federal no alto rendimento, por meio do Bolsa Alteta e, desde maio, ganhou uma perspectiva ainda mais abrangente, com a criação da Secretaria Nacional do Paradesporto. A pasta inédita da Secretaria Especial do Esporte tem como foco a atenção e o cuidado com todas as deficiências, além de buscar a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos com práticas voltadas ao esporte e à educação.
“Nessa luta, o esporte para as pessoas com deficiência é fundamental. É um catalisador, juntamente com saúde, educação e lazer, na transformação da vida das pessoas. Nosso desejo é ver todas as pessoas com deficiência praticando esporte. O esporte socializa, educa, inclui”, afirma o secretário nacional substituto do Paradesporto, Erinaldo Chagas. O responsável pela pasta elenca o preconceito e a falta de acessibilidade como pontos centrais a serem debatidos nessa data simbólica e para estarem no foco das políticas públicas. “Nosso intuito é lutar pela construção de uma sociedade inclusiva, onde todos possam viver de forma igualitária e sem preconceitos”.
Para Ricardo Sapi, vice-presidente da Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS) e Chefe da Comissão de Atletas Surdos da WESCO Esports Consortium, a nova secretaria já trouxe conquistas factíveis para os cerca de 10 milhões de deficientes auditivos do Brasil. “Nunca na história a comunidade surda foi tratada com tanta prioridade, respeito, carinho e atenção. É inegável a democratização do acesso às políticas públicas de esporte que vem sendo promovida pelo Governo Federal por meio da Secretaria do Paradesporto. Muitos canais de diálogo estão se abrindo”, comenta.
Entre as demandas da comunidade surda em debate no Governo Federal estão a realização da Surdolimpíada Nacional, em setembro de 2021 em Brasília, a criação de um Centro de Treinamento específico para a comunidade surda e a reinclusão de atletas surdos no programa Bolsa Atleta.
No plano esportivo do alto rendimento, um dos braços do investimento do Governo Federal é o Bolsa Atleta. Uma das maiores iniciativas de patrocínio direto a esportistas do mundo, o programa contempla atualmente 1.533 atletas paralímpicos, em 27 modalidades, com R$ 42,5 milhões aplicados a cada 12 meses. São 546 bolsistas no feminino e 987 no masculino, divididos entre 1.362 inscritos nas categorias convencionais do Bolsa Atleta e 171 na Bolsa Pódio. A faixa principal do programa é voltada para atletas com chances reais de medalha em Jogos Paralímpicos e prevê repasses mensais que variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil.
Integrantes dessa principal categoria do programa, Edênia Garcia e Guilheme Costa retratam o significado simbólico do esporte como transformador de trajetórias e indicam caminhos para que a luta das pessoas com deficiência por igualdade de oportunidades tenha ainda mais visibilidade. Tetracampeã mundial de natação e dona de três pódios paralímpicos, a nadadora pernambucana entende que a projeção dos atletas ajuda a criar uma vitrine para potenciais e competências.
“O esporte paralímpico é uma das maiores ferramentas de inclusão, seja da pessoa com deficiência ou não. No mundo inteiro é comum colocar a pessoa com deficiência na marginalidade, abaixo dos seres humanos ditos normais, sem deficiência. O esporte paralímpico enfatiza a eficiência, as nossas habilidades, as nossas competências. É uma vitrine. A partir dessa visão, você consegue enxergar nas pessoas com deficiência potencialidades e, com isso, começa a mudar um pouco o olhar da sociedade para a pessoa com deficiência”, comenta.
Para ela, outra face dessa mudança depende de uma abordagem de longo prazo, pela educação. “O termo pessoa com deficiência já indica que a pessoa vem antes da deficiência. Muita gente preconceituosa ainda coloca a deficiência antes da pessoa. Mas a deficiência é só mais uma característica. A gente precisa falar sobre isso nas escolas. A gente só muda a cultura de um país educando desde o início os pequenos sobre as diferenças, sobre o que é inclusão, sobre o que é acessibilidade, e que as pessoas têm o direito de usufruir da mesma liberdade que as pessoas sem deficiência têm. Se a gente aborda esses temas, os pequenos vão levar para casa. E aí os pais, mesmo que não tenham qualquer tipo de educação sobre isso, vão ter mais contato pelas crianças. Vamos ter uma geração mais consciente, inclusiva, respeitosa”, comenta a atleta, citando também como exemplo desse desafio cultural e educacional o número reduzido de pessoas aptas a conversar em Libras com deficientes auditivos.
Medalhista de bronze nos Jogos Paralímpicos Rio 2016 na disputa por equipes do tênis de mesa, Guilherme Costa adota tom similar. “Acho fundamental existir um dia para que a gente traga à tona as reais necessidades de uma parcela da sociedade que muitas vezes não tem voz, muitas vezes é esquecida, muitas vezes é invisível. Se você parar para pensar, quantos lugares você conhece que não têm um banheiro acessível, que não têm uma rampa, que só tem escada, e não atendem realmente a alguns tipos de deficiência? Algo que seja universal e que não impeça o direito de ir e vir de ninguém. O grande desafio é que a gente não discuta isso só no 21 de setembro, mas todos os dias, para que mais pessoas com deficiência saiam às ruas e consigam fazer e exercer suas funções com excelência”, opina o mesatenista.
Presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e medalhista de ouro como atleta do futebol de cinco (para deficientes visuais) nos Jogos Paralímpicos de Atenas (2004) e Pequim (2008), Mizael Conrado aponta outros desafios no horizonte do setor. “Primeiro é preciso desmistificar a questão. As pessoas com deficiência têm potencialidades idênticas às pessoas sem deficiência. Elas só precisam de instrumentos e condições. O conceito de normalidade é relativo. O rompimento de paradigmas é fundamental para que a gente tenha uma sociedade mais inclusiva. O mundo tem mudado seus valores. Hoje a sociedade valoriza a inclusão, a diversidade. Então, é preciso entregar instrumentos para superar as dificuldades que são comuns na vida para que as pessoas adquiram resiliência, que é o principal atributo desejado de um indivíduo no mercado de trabalho. A inclusão é uma via de duas mãos: a sociedade precisa entender e os indivíduos precisam estar preparados para serem incluídos”, avalia.
Em comemoração à data do atleta paralímpico, o CPB vai realizar um evento online em sua página oficial no Facebook e no canal do Youtube nesta terça-feira (22.09). A ação contará com duas transmissões de debates ao vivo: “Esporte como ferramenta de transformação”, a partir das 15h, e “Superação é uma ova!”, a partir das 18h. Participarão os atletas Débora Menezes, Fabrício Ferreira, Roberto Alcalde, Susana Schnarndorf, Verônica Hipólito, e Yohansson Nascimento.
“À medida que o esporte demonstra para a sociedade o potencial da pessoa com deficiência, ele as tira da invisibilidade e faz com que o poder público tenha noção de que é um segmento de pessoas que têm direitos que precisam ser garantidos. Os atletas paralímpicos são pessoas que vão aos seus limites como quaisquer outros. Mas, além disso, têm histórias de vida normalmente impressionantes e superaram limitações de ordem física, sensorial ou intelectual e, a despeito disso tudo, puderam tornar-se grandes atletas”, completa Mizael.
Para Guilherme Costa, o que é essencial enfatizar no plano do esporte paralímpico é o caráter profissional e de excelência. “Nossa superação de ter dado a volta por cima é a mais evidente, mas a grande superação de todos os atletas paralímpicos do Brasil, hoje, é acordar diariamente às 6h, independentemente de qualquer condição, e treinar duro e de forma intensa como qualquer atleta da seleção brasileira, seja ela olímpica ou paralímpica”, explica o atleta, que em novembro de 2006 foi atropelado por um carro no Parque da Cidade, em Brasília, e ficou tetraplégico. Ele chegou a praticar outras modalidades, como natação, capoeira, basquete, futebol e jiu-jitsu antes do acidente, e descobriu no tênis de mesa um recomeço.
“Em certa medida, nós somos o rosto, a personificação da habilidade, da eficiência. Temos essa responsabilidade da representatividade. Eu, por exemplo, represento muitas outras meninas que possivelmente tenham algum tipo de deficiência ou síndrome como a minha e que estão em casa e acham que não podem nada. Por essa vitrine do esporte, os atletas carregam esse propósito maior, de mostrar essa eficiência, essa excelência técnica, para outras pessoas”, emenda Edênia Garcia, que nasceu com polineuropatia sensitiva motora, doença progressiva que representa dificuldades de movimento nas articulações, em especial nas pernas e nos braços.
A importância do suporte federal ao esporte paralímpico tem dimensão prática nos megaeventos. Nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, o Brasil teve a maior delegação da história, com 286 atletas, sendo 90,9% bolsistas. Foram 72 medalhas conquistadas, em 13 esportes diferentes: 14 ouros, 29 pratas e 29 bronzes, além de 99 finais disputadas. Todas as medalhas foram conquistadas por atletas que recebiam o apoio da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.
No ciclo para os Jogos de Tóquio 2020, a força do Bolsa Atleta ficou clara mais uma vez nos Parapan-Americanos de Lima 2019, no Peru, o maior evento multiesportivo antes dos Jogos no Japão. O Brasil protagonizou um resultado histórico e chegou ao topo do quadro de medalhas, com 308 pódios. Foram 124 medalhas de ouro, 99 de prata e 85 de bronze. Do total de medalhas, 287 (93,18%) foram conquistadas por atletas contemplados pelo Bolsa Atleta.
“O Governo Federal trabalha para fortalecer o esporte brasileiro como um todo e, como deve ser em qualquer outro aspecto, não fazemos distinção entre olímpicos e paralímpicos quando pensamos em políticas públicas. O Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência (21 de setembro) e o Dia Nacional do Atleta Paralímpico (22 de setembro) são muito importantes para nós. Gostaria de parabenizar e desejar sucesso a todos os atletas paralímpicos que neste momento estão treinando e se preparando para defender o Brasil nas competições internacionais e, principalmente, nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, no ano que vem”, afirma o secretário Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, Marcelo Magalhães.
“O Brasil é hoje uma das potências mundiais e isso nos enche de orgulho, porque nossos atletas, além de honrar nosso país nas competições internacionais, servem de inspiração para que outras pessoas com deficiência percebam que o esporte será sempre um caminho que elas podem seguir para ajudá-las a ter uma vida com mais saúde, mais qualidade e, a partir da dedicação e do esforço de cada um, até ter um novo objetivo que é tornar-se um atleta de alto rendimento. O Bolsa Atleta é um instrumento muito importante nesse processo e vamos seguir trabalhando para fortalecê-lo e aprimorá-lo”, completa o secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento da Secretaria Especial do Esporte, Bruno Souza.
Diretoria de Comunicação – Ministério da Cidadania