Justiça mantém preso namorado que tentou matar fisioterapeuta; caso vai a júri popular
A Justiça manteve a prisão preventiva de Fábio Barbosa Vieira, apontado como mandante da tentativa de feminicídio da namorada, a fisioterapeuta Isabela Oliveira Conde, esfaqueada 68 vezes em 28 de fevereiro do ano passado, em Salvador. Acusado de receber dinheiro de Fábio para cometer o crime, Alex Pereira dos Santos também teve liberdade negada.
Na decisão, do último dia 2 de outubro, a juíza Gelzi Maria Almeida Souza pontuou que manter a prisão dos dois é garantia de manutenção da ordem pública porque a dupla é acusada de crimes considerados gravíssimos.
Em agosto do ano passado, a mesma magistrada, que integra o 1º Juízo da 1ª Vara do Tribunal do Júri, ordenou que o caso vá a júri popular. Com isso, Fábio e Alex serão julgados pelo crime de tentativa de feminicídio qualificado, com os agravantes de motivo torpe, meio cruel e emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Também suspeito de participação no caso, Adriano Santos de Jesus foi absolvido porque a juíza não encontrou elementos para comprovar o envolvimento dele.
A dupla de réus ingressou com recurso em segunda instância para anular a sentença que os levou a júri popular, mas a solicitação foi negada em fevereiro deste ano pela Segunda Turma da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA). Em setembro, nova derrota para os criminosos: o colegiado indeferiu pedido da defesa para libertá-los.
Na decisão, o presidente da turma, desembargador Abelardo Paulo da Matta Neto, ainda ordenou que a juíza responsável pelo caso em primeiro grau avaliasse a possibilidade de soltura de Fábio e Alex, mas Gelzi Maria Souza optou por mantê-los na cadeia, como informado no início da reportagem.
Apesar das decisões desfavoráveis aos réus, o júri popular continua sem data marcada porque o processo ainda está na Segunda Turma e não foi devolvido para a juíza.
RELEMBRE O CASO
O crime aconteceu na noite de 28 de fevereiro, primeiro dia de carnaval na capital baiana em 2019. Isabela havia deixado o expediente no hospital onde trabalhava, quando encontrou com o mandante do crime, Fábio, que foi buscá-la no trabalho.
Quando Isabela chegou no carro do companheiro, ele a aguardava com dois homens que estavam no banco de trás do veículo. Ela chegou a se assustar com a presença da dupla, mas Fábio disse que os homens eram amigos dele e o ajudavam com vendas de abadás.
No caminho, quando passavam pela Avenida Bonocô, umas das principais da capital baiana, os homens começaram a bater e esfaquear Isabela. Ela precisou se fingir de morta para sobreviver. Os suspeitos a jogaram em uma área de mata da BR-324. Ela foi socorrida por pessoas que passavam pelo local e levada para o Hospital do Subúrbio.
Segundo as investigações, Fábio cometeu o crime porque não se conformava com o fim do relacionamento e por medo de ter perdas financeiras com o término do namoro. Ele teria pago R$ 1 mil para que comparsas matassem Isabela.
À Justiça, ele confirmou ter feito a emboscada, mas negou o objetivo de matá-la. Alegou que seu intuito era dar um “susto” para que a fisioterapeuta confirmasse uma suposta traição contra ele. No entanto, seu comparsa teria se descontrolado com a reação de Isabela, que entrou em luta corporal com ele para tentar se defender, e começou a desferir os golpes de faca.
“No momento em que pegaram por trás, um, eu estava dirigindo, o Alex estava por trás (…) mas como ela lutava judô, se bateu no carro, tentou sair, ele percebeu a ação do outro Nem (…) ele, o tal do Nem, viu a faca no porta luva do carro e saiu do controle (…) ele começou a desferir as facadas nela (…) no momento a gente tentou fazer o que está sendo acusado, quando viu que ela tinha desmaiado, na circunstância do momento, foi que ele parou o carro e falou ‘então bota ela pra cá pra não ter nenhum tipo de flagrante’ (…) ele pegou ela, parei o carro e jogou lá, ‘está respirando ainda’, eu saí então”, disse Fábio em interrogatório, mencionando a ação de uma terceira pessoa apelidada como “Nem”, que não aparece nos autos como réu.
Ao relatar o caso à Justiça, a fisioterapeuta contou que o ex-namorado assistiu a tudo e que, após ter sido esfaqueada, “ouviu Fábio falando com os executores para que estes se certificassem de que ela estava morta”. De acordo com ela, durante as agressões, Fábio parecia frio e calmo, enquanto dirigia o carro. Ela ainda contou os momentos dramáticos que viveu.
“Eu tive a sensação que estava vivendo um pesadelo (…) eu gritei, ele começou a me enforcar; eu gritando, tentando sair, gritando e batendo a perna, “Fábio, Fábio”, eu achei que Fábio estava sendo atacado também, “pelo amor de Deus, Fábio, esses caras estão me matando, eu vou morrer eu estou sufocada” (…) eu comecei a usar minha mão (…) empurrei (…) eu já virei o meu corpo, porque eu faço judô, girei meu tronco (…) usei as duas mãos como proteção, e ele vinha no meu pescoço com a faca e o outro com murro, e faca e murro, e eu trocando de mão, eles vinham sempre na jugular (…) pareciam um bichos em cima de mim (…) eu vi Fábio calmo dirigindo (…) ‘Fábio porque você está fazendo isso comigo?’; quando eu virei e olhei pra ele, ele estava frio, calmo, ele se manteve calmo, dirigindo”, detalhou.
O laudo pericial feito dentro do carro onde tudo aconteceu concluiu ter havido “ação violenta” no interior do veículo. Na cena do crime, os peritos encontraram o vidro da porta dianteira direita estilhaçado, manchas “abundantes” de sangue no banco dianteiro direito e no estofamento da porta direita e uma lâmina de faca, sem o cabo, com manchas de sangue.